Em 28 de novembro de 1567, surge então a primeira menção escrita referente ao tubérculo da planta Solanum tuberosum, a comum e banal batata, num recibo de compra entre as Canárias e a Antuérpia. Oriunda do Peru, a recém- chegada à Europa acabou por não vingar no competitivo mercado dominado pelo centeio e pelos nabos, acabando por ser rotulada como “indigesta” ou apenas “comida para os porcos”. A pobre coitada foi enxotada por grande parte do mundo ocidental, de tal forma que nem o povo queria estar perto dela num raio de sete quilómetros. Há de notar que o povo em questão estava a passar pela habitual escassez de alimento e, no entanto, a vontade de imitar o ócio da nobreza impedia-o de comer o tubérculo com forma fecal de vez em quando.
Olhando assim, até o compreendo. Todos queremos ser demasiado chiques para alguma banalidade, nem que isso signifique colocar uma rodela de pepino num copo de água à temperatura ambiente.
Bem, voltando ao que interessa, a fome generalizada estava a bater à porta da realeza e a única solução estava escondida embaixo da terra…literalmente. Alguns sábios aperceberam-se disso e Frederico, O Grande, da Prússia (sim, ele realmente existiu) decidiu proclamar oficialmente o cultivo obrigatório da batata no auge da Guerra dos Sete Anos, afirmando que mais nutritivo e mais barato não havia (tal como uma publicidade do Pingo Doce). Esta decisão gerou revolta por parte dos agricultores, já que a ideia de que a batata era repugnante e imprópria para consumo humano já tinha sido impregnada na mente das pessoas pelos produtores de cereais. Contudo, Frederico conseguiu virar o jogo e fez xeque-mate aos agricultores, criando um campo de batatas privado vigiado por guardas com a missão de não cumprirem o seu trabalho muito cuidadosamente. Este estratagema estimulou as pessoas a roubarem as batatas do terreno, visto que algo “tão bem protegido” só poderia ser de imenso valor. E começa assim a febre das batatas na Europa…
A verdade é que o background histórico das batatas foi apenas uma desculpa para demonstrar o meu amor incondicional por este alimento. A verdade é que adoro batatas. A verdade é que me poderia alimentar apenas à base de batatas e continuar a ser feliz. Talvez um sistema socioeconómico em que a moeda de troca fosse a batata seria a derradeira solução para todos os nossos problemas. O que é certo é que as batatas são provavelmente um dos ingredientes mais versáteis e simples que podemos encontrar nas nossas cozinhas, sendo essa a razão da minha idolatração. Imaginem um bife com toda a vossa vontade. Agora imaginem o que poderá acompanhar tal prato. Alguns podem dizer arroz ou massa, que por sinal são escolhas totalmente aceitáveis, mas todos nós sabemos que um puré de batata complementaria aquela refeição de uma maneira tão inexplicavelmente perfeita que até as mentes mais brilhantes seriam incapazes de explicar.
No final de uma dia duro, onde tudo parece estar virado do avesso, estará sempre na nossa dispensa um saco de batatas prontas para serem transformadas, com gosto, numa refeição nutritiva que nos fará mais fortes para o dia que segue.
-Alexandre F.K.