A biotecnologia e os OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) estão cada vez mais presentes na nossa alimentação e no campo da agricultura. No entanto, estas práticas geram discussões apaixonadas em torno dos benefícios e das desvantagens que podem trazer, principalmente em países como Portugal, onde a ligação à terra e aos alimentos tradicionais é forte. Neste artigo, vamos explorar as principais vantagens e desvantagens destas tecnologias aplicadas a plantas e alimentos, observando como podem impactar o setor agrícola português
e, no final, avaliar se a sua adoção pode ser benéfica para o país. Uma das grandes vantagens da modificação genética é a possibilidade de criar culturas agrícolas mais resistentes a pragas e doenças. Este tipo de manipulação genética permite que as plantas desenvolvam defesas internas, reduzindo a necessidade de pesticidas, algo extremamente vantajoso tanto para os produtores como para o ambiente. Por exemplo, no caso do vinho português, uma das principais exportações do país e um símbolo de excelência no mundo, o míldio é uma ameaça constante às vinhas. Esta doença fúngica causa danos substanciais nas uvas, impactando negativamente a quantidade e a qualidade da colheita. Com a aplicação de biotecnologia, é possível desenvolver vinhas geneticamente modificadas para serem mais resistentes a esta doença, o que representa uma vantagem significativa para o setor vitivinícola. Para além de reduzir custos com pesticidas, esta resistência ajuda a assegurar uma produção de qualidade, preservando o sabor e a tradição dos vinhos portugueses. Em regiões como o Douro e o Alentejo, onde a viticultura é uma fonte de sustento
para muitas famílias, estas inovações podem ter um impacto direto na economia local. Outro benefício importante da modificação genética é a possibilidade de aumentar o valor nutricional de alguns alimentos. Existem já exemplos bem-sucedidos, como o arroz dourado, uma variedade geneticamente modificada para incluir altos níveis de vitamina A, essencial para a saúde ocular. Embora este arroz não seja cultivado em Portugal, a ideia de utilizar a biotecnologia para enriquecer outros alimentos básicos, como o trigo, abre portas para combater deficiências nutricionais. Em Portugal, o trigo é uma base importante da dieta, pelo que a capacidade de aumentar o seu teor de vitaminas e minerais pode ter um impacto positivo na saúde da população, especialmente em grupos mais vulneráveis. A sustentabilidade também é uma das promessas da biotecnologia agrícola. Com a criação de plantas geneticamente modificadas que apresentam uma maior durabilidade, é possível reduzir o desperdício alimentar, um problema crescente a nível global e também em Portugal. Ao prolongar a validade dos alimentos e ao torná-los mais resistentes ao transporte e ao armazenamento, esta tecnologia pode reduzir significativamente as perdas alimentares ao longo da cadeia de abastecimento. Em Portugal, onde a agricultura familiar e as pequenas explorações desempenham um papel importante na produção nacional, a capacidade de conservar melhor os alimentos ajuda a diminuir as perdas económicas para os agricultores e a otimizar o uso dos recursos naturais. No entanto, a modificação genética e a biotecnologia não estão isentas de críticas. Uma das preocupações mais comuns entre os consumidores e ambientalistas é a possibilidade de efeitos desconhecidos a longo prazo na saúde humana. Embora muitos estudos indiquem que os OGMs são seguros, há quem defenda que ainda é cedo para afirmar que não existe qualquer risco para o consumidor. Em Portugal, onde o mercado valoriza cada vez mais a autenticidade e a origem dos produtos, esta é uma preocupação válida. Para além dos potenciais riscos para a saúde, também se teme que a introdução de plantas
modificadas possa afetar o ecossistema e a biodiversidade local, uma questão relevante num país onde os solos agrícolas e a flora nativa desempenham papéis fundamentais. Outro ponto sensível é a questão da dependência dos agricultores em relação às empresas que desenvolvem as sementes geneticamente modificadas. A produção de OGMs é controlada por um pequeno grupo de multinacionais, que detêm as patentes e estabelecem preços elevados para as sementes. Para os agricultores portugueses, especialmente os de pequena e média escala, isto pode representar uma perda de autonomia e uma maior vulnerabilidade financeira. Caso os produtores se tornem dependentes das sementes patenteadas, podem enfrentar dificuldades em manter a viabilidade económica das suas explorações e as práticas agrícolas tradicionais, algo que é parte integrante da identidade agrícola portuguesa. Outro risco associado ao uso de plantas geneticamente modificadas é o surgimento de “super-pragas” ou “super-ervas” que, devido à exposição
a estas culturas resistentes, acabam por desenvolver tolerância a pesticidas e herbicidas. Este fenómeno já foi observado noutros países e pode levar à necessidade de recorrer a produtos químicos ainda mais potentes, o que anula parte dos benefícios iniciais da tecnologia. Em Portugal, onde a diversidade de insetos e ervas daninhas é rica, a
introdução de OGMs pode levar ao aparecimento de espécies resistentes, criando um ciclo de dependência de produtos químicos prejudicial à sustentabilidade agrícola. Por fim, há a questão da preservação das variedades locais, que é especialmente relevante em Portugal. O nosso país é conhecido pela sua rica tradição agrícola e pela diversidade de variedades locais de frutas, legumes e cereais, como as uvas da casta Touriga Nacional ou as oliveiras centenárias do Alentejo. A introdução de culturas geneticamente modificadas pode representar uma ameaça para estas variedades tradicionais, uma vez que os agricultores, ao optar por OGMs mais produtivos, podem acabar por abandonar as espécies locais. Este fenómeno pode levar ao desaparecimento de parte da identidade agrícola nacional, afetando não só a cultura, mas também a economia rural. Apesar destas desvantagens, as vantagens da modificação genética são evidentes. Em Portugal, onde a agricultura enfrenta desafios cada vez mais exigentes devido às mudanças climáticas e à pressão sobre os recursos naturais, estas tecnologias podem ajudar a construir um setor agrícola mais resiliente e competitivo. Quando aplicadas com responsabilidade e regulamentadas de forma rigorosa, as técnicas de modificação genética podem representar um novo impulso para a agricultura nacional, promovendo uma produção mais eficiente e
sustentável, e permitindo preservar a qualidade e o caráter dos produtos portugueses, como o vinho, que são reconhecidos e apreciados em todo o mundo.
– Daniil Kostiuk