Maria Keil pertence à segunda geração de pintores modernistas portugueses. É uma referência obrigatória quando se fala da história do grafismo, da ilustração e da azulejaria em Portugal. É autora de algumas das mais importantes composições de azulejos produzidas em Portugal durante o século XX.
Maria Keil, enquanto solteira Maria da Silva Pires, nasceu no Algarve, em Silves, a 9 de Agosto de 1914, e faleceu em Lisboa, a 10 de Junho de 2012. Maria começou o seu percurso artístico na pintura, na Escola de Belas-Artes, onde foi aluna de Veloso Salgado em 1932/1933. Em 1933 casou com o arquiteto Francisco Keil do Amaral, e, tanto por incentivo do marido, como devido à deceção com o ensino ministrado na escola, Maria acabou por abandonar a instituição, tendo frequentado apenas o primeiro ano do curso de pintura.
Desenvolveu atividade artística desde a década de 1930 até quase ao final da sua vida, em 2012. A sua obra, muito variada, abarca as artes gráficas, a publicidade, a ilustração, a azulejaria, o desenho, a pintura, a gravura, a tapeçaria, entre outros. Esta realidade insere-se num tempo em que se assistiu a um esbatimento da tradicional separação hierárquica entre artes menores e maiores, e se apostou na conexão dos diferentes meios de expressão artística. Defendia-se a integração das artes, o trabalho de equipa, multidisciplinar, e a aplicação dos conhecimentos técnicos adquiridos da experiência artística nas situações do quotidiano, com o objetivo de associar um sentido utilitário à estética. Maria Keil, que gostava de ser tratada simplesmente por Maria, definia-se como uma operária das artes.
Uma análise da vida e obra de Maria Keil permite identificar duas grandes fases de produção: uma primeira que abrange as décadas de 1930 e de 1940, de aprendizagem e de formação, marcada por uma intensa actividade no âmbito das artes gráficas, da publicidade e das artes decorativas, em parte devido a encomendas estatais; e uma segunda fase que teve início nos anos de 1950, e se estendeu até ao final da vida da autora, em 2012, de experimentação, diversificação, maturidade e consagração, em que se dedicou a novas disciplinas artísticas, designadamente, à ilustração infantil e à azulejaria.
Maria Keil uma artista no feminino
Maria Keil, senhora de muitas artes e de uma alma inquieta que atravessou o século. Não quis ser uma dona de casa prendada nem uma artista de meio termo. Diz Maria Keil, que nunca se sentiu discriminada por ser mulher, a verdade é que venceu num meio habitualmente masculino. As palavras da artista são confirmadas nos vários estudos que se têm feito sobre o trabalho de mulheres artistas em Portugal. Alguns destes estudos referem Maria Keil enquanto a referência incontestável de uma mulher que começou a trabalhar na década de 1930 na área das artes, e que ao longo do seu respeitável percurso desenvolveu uma obra artística riquíssima. Referem também uma pessoa de forte consistência política e social, que defendia os ideais democráticos, a liberdade e a igualdade, participando ativamente nos movimentos feministas e de defesa da mulher, designadamente no Movimento Democrático de Mulheres (MDM).
Joana Brito, professora de Desenho da ESMTG