DO TERROR AO PERDÃO…

Curioso estar a escrever este texto no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, 27 de janeiro. Assinala-se hoje o dia em que o Exército Vermelho libertou Auschwitz, o maior e mais terrível campo de extermínio dos nazistas. Tenho pena que este assunto não seja mais abordado na nossa sociedade porque, afinal de contas, o genocídio de milhões de judeus não ocorreu assim há tanto tempo. Infelizmente, assistimos, na atualidade, a vários movimentos de extrema-direita na Europa, e a tudo o que isso acarreta, como discriminação e xenofobia.

Eva e Miriam, irmãs gémeas, tinham apenas dez anos quando foram levadas para um campo de concentração, em Auschwitz. Os seus pais e irmãs mais velhas foram mortos numa câmara de gás. Pelo facto de serem gémeas, tinham alguns “privilégios” que só aos gémeos eram concedidos, como, por exemplo, tomar banho uma vez por semana (“Na enorme sala dos duches, tirávamos as nossas roupas e deixávamo-las numa pilha (…) o químico utilizado para desinfetar as nossas roupas, era um dos três químicos usados para gasear pessoas até à morte em Auschwitz”). Com efeito, interessava ao Dr. Mengele que se mantivessem vivas e minimamente “saudáveis” para que pudesse perpetrar as suas experiências. “Algumas injeções eram tentativas de alterar a cor dos olhos” e procurava também “transformar raparigas em rapazes” e vice-versa. Era aqui que Eva ia buscar forças para continuar. Tinha a consciência de que, se algo de terrível lhe acontecesse, Miriam iria pelo mesmo caminho. Se eram gémeas, eram vistas como uma só. Não interessava ao “Anjo da Morte”, alcunha pela qual Mengele era conhecido, continuar as suas experimentações sem uma parte fulcral – “Porque havia Miriam de morrer só porque era possível que eu morresse?

As Gémeas de Auschwitz, tradução portuguesa do título original Surviving the Angel of Death, relata-nos, portanto, as atrocidades cometidas a todos os que iam parar a um campo de concentração e a história de sobrevivência de duas irmãs gémeas que tiveram de lutar uma pela outra. É uma narrativa emotiva e moderada e, na minha opinião, uma das melhores acerca do Holocausto. Eva Mozes Kor fundou um museu e centro educacional chamado “CANDLES” (Children of Auschwitz Nazi Deadly Lab Experiments Survivors), conseguindo descobrir 122 gémeos sobreviventes. Deu inúmeras palestras, transmitindo uma mensagem de esperança para todos os que sofrem. Trabalhou em prol de um mundo melhor, onde o “perdão é a semente da paz”, lutando contra o preconceito e ódio. Eva destacou-se ainda por perdoar, publicamente, todos os nazistas. Passo agora a citar alguns excertos presentes no epílogo desta obra: “Perdoem os vossos piores inimigos e perdoem todos aqueles que vos magoaram – isso curará a vossa alma e libertar-vos-á. (…) Que não haja mais Auschwitz.” Faleceu em 2019, com 85 anos.

Carolina Silva

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