“Na verdade, se dizer a palavra é transformar o mundo, se dizer a palavra não é privilégio de alguns homens mas um direito dos homens, ninguém pode dizer sozinho a palavra. Dizê-la sozinho significa dizê-la para os outros, uma forma de dizer sem eles e, quase sempre, contra eles. Dizer a palavra significa, por isso mesmo, um encontro de homens. Este encontro que não pode realizar-se no ar, mas tão-somente no mundo que deve ser transformado; é o diálogo em que a realidade concreta aparece como mediadora dos homens que dialogam”. Paulo Freire
Paulo Freire indica-nos neste pequeno excerto qual o princípio primeiro a ter nas relações humanas, nas relações sociais, nas relações organizacionais. A palavra como um direito dos homens e não do homem, o diálogo em que a realidade concreta aparece como mediadora dos homens que dialogam.
Nenhuma organização sobrevive sem este diálogo, sem a liberdade de ideias e opiniões, sem a partilha e a corresponsabilização, sem o dar-se e ser aceite de uma forma sincera e livre de preconceitos. A liberdade, o humanismo, o respeito pelo outro, são princípios e valores essenciais ao bom funcionamento de qualquer organização.
Considerando que a visão e a missão são a sinergia destes princípios e valores que devem estar intrínsecos no comportamento das pessoas, de forma partilhada, refletida e corresponsável, aberto ao meio e para o meio, de modo a traçarem um caminho para a prestação de um serviço público de qualidade, apresento assim a visão e a missão.
Visão
“A unidade num caminho para a realização de um agrupamento de sucesso”
Missão
“Construir uma organização libertadora, humanista, inclusiva, inteligente, reflexiva e centrada na procura constante da qualidade”.
- A escola libertadora
Uma escola que permita a audição e participação de todos. A liberdade que saiba respeitar e viver com os outros, que saiba gerir conflitos, que sempre os há, mas que promovam mudanças válidas e construtivas de unidade. Que eduque e forme cidadãos livres de pensamento e sentimento.
- A escola humanista
Uma escolaque saiba valorizar a dimensão humana, as suas competências e aptidões, os seus estados de alma e emoções. A educação para a diversidade neste mundo global e competitivo terá que realçar primeiramente a riqueza interior de cada ser humano. Uma escola aberta a abraçar os problemas de cada um e a esforçar-se por os solucionar. Uma escola inclusiva que valorize a diferença de etnias, religiões, género, idade, condições sociais, culturas e adversidades mas que mobiliza e gere de forma a dar resposta às especificidades de cada um.
Uma escola que gere o currículo.
Roldão diz-nos assim que currículo escolar é – em qualquer circunstância – o conjunto de aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessárias num dado tempo e contexto, cabe à escola garantir e organizar (1999, p. 24) e acrescenta que,
..”é preciso reforçar, embora no quadro de decisão central, um campo de manobra de decisão local, e dentro da decisão local e da escola ainda existe um campo de mais restrito que pertence aos professores face à turma, face às suas situações, de modo a encontrarem e decidirem modos de trabalhar comuns, áreas a que vão dar prioridade, metodologias, referenciais de ação, para resolverem os problemas dos meninos que não aprendem no sistema clássico. (2000, p. 19)
Vejamos como o que hoje é pedido às escolas já é tão antigo e muitas ainda têm receio de o fazer.
Reforçamos e valorizamos a última expressão – os meninos que não aprendem no sistema clássico. Foi neste âmbito que o Ministério da Educação lançou, em 1997, o debate aos professores, denominada Reflexão Curricular Participada, para que, nas suas escolas, refletissem e produzissem opinião sobre o sistema de ensino, os programas (conteúdos, sua extensão, articulação vertical e horizontal), as condições de trabalho, enfim, emergiu a necessidade de uma progressiva diferenciação pedagógica, que possibilitasse a diversidade de percursos de aprendizagem, procurando ir ao encontro das reais necessidades formativas de cada aluno.
Simultaneamente tornou-se necessário procurar novas estratégias facilitadoras de uma maior articulação e contextualização das aprendizagens, para que essas pudessem ganhar mais sentido para todos e delas pudessem resultar a construção de competências essenciais no final da escolaridade obrigatória. Publica-se então o Despacho n.º 4848/97, de 30 de Julho.
Este diploma prevê assim o desenvolvimento de projetos de gestão flexível dos currículos do ensino básico, sendo que a organização destes projetos é da iniciativa dos estabelecimentos de ensino públicos, particulares ou cooperativos com autonomia ou paralelismo pedagógico do 1.º ciclo e dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, bem como do ensino secundário que lecionam o 3.º ciclo do ensino básico.
É nesta perspetiva que aparece o currículo como projeto. Vinte anos após a publicação da legislação supracitada surge o Despacho 5908/2017 que preconiza praticamente o mesmo. É preciso fazer a flexibilização do currículo, fazer um trabalho de projeto e de articulação de forma a dar resposta às necessidades dos alunos das nossas escolas.
- Uma escola inteligente
Uma escola que se recria, que saiba caminhar em simultâneo com as inovações de caráter científico, artístico e tecnológico.
Uma escola que se preocupe com as questões ambientais e contribua para o desenvolvimento sustentado.
- Uma escola reflexiva
Uma escola que se pensa, se conhece, medita, critica, reflete e MUDA. Como refere Alarcão “escola reflexiva é uma organização que continuamente se pensa a si própria, na sua missão social e na sua organização e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo” (cit. por Alarcão 2005, p.37).
É uma escola que permite pensar-se a si própria através da sua comunidade, cria momentos de reflexão individual e coletiva, favorece a formação profissional e integral, desenvolve uma cultura pensante, capaz de encontrar e seguir o caminho da motivação e realização pessoal.
Assim, se a escola precisa destes professores, os professores precisam da organização para atingirem os seus objetivos profissionais, a sua realização pessoal. O professor tem que encontrar na sua atividade profissional a sua gratificação interna e o propósito da sua vida (Day, 2004). Se o professor se sentir realizado ele acredita que vale a pena continuar, que vale a pena lutar, ele dá-se aos seus alunos; cria uma relação de amor, com confiança e respeito, que faz com que se sintam entusiasmados pela busca do saber. Desenvolve estratégias cada vez mais diversificadas, mais inovadoras, mais criativas, de modo a incutir nos alunos a paixão pelo ensino, pela descoberta do saber – ele ousa e sonha, ele faz ousar e sonhar.
Sentindo-se realizado, satisfeito com o seu trabalho e, consequentemente, consigo mesmo, sentindo liberdade, autonomia e responsabilidade no seu trabalho, sente, cada vez mais, a necessidade de melhorar a sua qualidade, vai à procura do seu desenvolvimento intelectual para satisfazer, eficazmente, as necessidades desta organização aprendente. Ele medita; ele reflete na, pela e sobre a ação; ele é um prático reflexivo (Schon, 1987), ele aprende e partilha conhecimento, ele faz um trabalho de colaboração com os seus pares.
- Uma escola centrada na procura constante da qualidade
Uma escola centrada na procura constante da qualidade é aquela que tem um pensamento reflexivo e se avalia na procura da melhoria contínua e da qualidade. É aquela que se autoavalia e conjuga a sua avaliação com a avaliação externa.
De acordo com o Conselho Nacional de Educação – Ministério da Educação,
“…é no diálogo entre perspetivas internas e externas que as instituições se desenvolvem e melhoram. Também a avaliação da escola ganha em conjugar os olhares internos e os externos: a autoavaliação fomenta a utilidade da avaliação – é na escola que está quem melhor conhece a realidade, quem realiza as melhorias no dia-a-dia, e assegura a continuidade; já a avaliação externa, por sua vez, sustenta a validade da avaliação – o olhar dos outros, a credibilidade e o (re)conhecimento que podem servir o reforço da segurança dos atores educativos” (CNE, 2007, p. 70).
Assim sendo, o modo mais eficaz de fazer a avaliação está na relação sinérgica entre autoavaliação e avaliação externa. A combinação da avaliação externa com a autoavaliação constitui desta forma um instrumento poderoso, gerador de informação, sobre o funcionamento e o desempenho, permitindo identificar até que ponto se cumpriu o previsto e quais os pontos fortes e fracos da trajetória seguida. Este exercício combinado permite aferir sobre as correções necessárias, sobre o planeamento do processo educativo ou, caso necessário, sobre a revisão dos objetivos e prioridades inicialmente estabelecidas, elaborando e aplicando planos de melhoria contínua.
Como destacou Pacheco, numa comunicação pessoal, no Seminário Avaliação Externas das Escolas: Modelos, Práticas e Impacto, realizada em Braga, em julho de 2010, há uma convicção ou desejo das políticas públicas nacionais que pretende afirmar uma cultura de avaliação institucional, com os objetivos de contribuir para a qualidade das escolas, reforçar a autonomia das escolas e envolver a escola no sucesso dos alunos, na gestão pedagógica e organizacional, na liderança e na autoavaliação.