Orange Is The New Black, lançada em 2013, foi um dos primeiros grandes sucessos da plataforma de streaming Netflix. A série, criada por Jenji Kohan, aborda as histórias das várias mulheres que se encontram na prisão de Litchfield bem como o seu dia a dia, tendo como protagonista Piper Chapman (interpretada por Taylor Schilling), que é condenada a 15 meses nesta instituição.Orange Is The New Black é baseada no livro, do mesmo nome, escrito por Piper Kerman, em quem a personagem principal é inspirada, onde esta descreve as suas experiências na prisão FCI Danbury no Connecticut.
Podemos dizer que esta foi uma série à frente do seu tempo por várias razões, começando pelo elenco que é bastante diversificado e liderado por mulheres, que interpretam personagens cativantes à procura de se tornarem pessoas melhores e de se encontrarem a si mesmas durante o seu tempo na prisão. Apesar de, aos olhos dos guardas, serem apenas reclusas, a série retrata-as como pessoas normais, que acabaram por fazer escolhas menos acertadas, e não como vilãs. Outro motivo é arepresentatividade, visto que Orange Is The New Blackconta com personagens de diferentes classes sociais, etnias, religiões e orientações sexuais, o que permite com que as pessoas se identifiquem com o que vêm.
Estas diferenças são utilizadas para explorar temas como a transfobia e a homofobia, preconceito em relação à religião, racismo e privilégio, mas também a inclusividade, luta pelos direitos, e a homossexualidade. A personagem Sophia, por exemplo, representa a comunidade trans e, durante a série, nós seguimos as suas dificuldades em ser aceite por outros, no entanto, existem também momentos onde podemos ver algumas das outras mulheres a apoiarem-na enquanto se encontra nestas circunstâncias pouco favoráveis. No que toca a racismo e privilégio, podemos afirmar que é a personagem principal, loira e de olhos azuis, que consegue obter mais sucesso, tanto fora e dentro da prisão, e tem mais facilidade em fazer certas coisas, em comparação com as outras personagens que não se encaixam neste padrão. Em relação à representação da homossexualidade, várias personagens identificam-se como parte da comunidade LGBTQIA+, e, em cima disso, a relação principal, foco de Orange Is The New Black, é entre duas mulheres, Alex e Piper, algo pouco retratado na altura em que a série foi lançada. No início, a sua relação não é saudável devido a problemas de comunicação e egoísmo de ambas as partes, mas elas acabam sempre por voltar uma para a outra porque, apesar das dificuldades, amam-se e, quando as coisas se complicam, precisam uma da outra. No entanto, apenas amor não é o suficiente para manter a sua relaçãoe, eventualmente, as duas crescem, individualmente, aprendem a ter as suas próprias vidas e a não necessitar de ficar juntas, mas sim a escolher ficar juntas.
A série permite-nos conhecer melhor o sistema prisional americano, mais especificamente as prisões femininas, chamando a atenção para problemas reais como a corrupção, abuso de poder, discriminação, maus tratospara com as mulheres e a desvalorização das mesmas. Há ocasiões em que vemos contrabando a ser levado para dentro da prisão, o desvio de dinheiro por parte da administração, por vezes há relações entre os guardas e as reclusas e existem também momentos em que estes as menosprezam e castigam, levando-as para a solitária pelas mínimas infrações. Também está presente a ideia de que a prisão é, idealmente, um sítio de reabilitação, contudo é dificílimo retornar à vida em sociedade, visto que as mulheres não são preparadas para tal. Por vezes a falta de dinheiro e oportunidades faz com que voltem a cometer crimes para sobreviver ou voltarem a ser presas, por não se conseguirem adaptar. Com o objetivo de angariar dinheiro para organizações que defendem reformas no sistema prisional, tentando assim acabar com estes problemas e injustiças, os produtores de Orange Is The New Black, encarregaram-se de criar uma iniciativa, o Poussey Washington Fund, originalmente idealizado dentro da série, em homenagem a uma das personagens, e trazido posteriormente para o mundo real.
Orange Is The New Black foi a série mais vista em 2013 na Netflix, tendo conseguido, ao longo dos anos, cerca de 21 nomeações aos Emmys e recebido 4, tanto em categorias de comédia como drama, tendo sido a primeira a conseguir esse feito. Outra curiosidade é o facto de as atrizes Jodie Foster (Silêncio dos Inocentes) e Laura Prepon (Alex) terem realizado alguns episódios. Além disso, não houveram só histórias de amor dentro do ecrã mas também fora do mesmo, Samira Wiley, que interpreta a personagem Poussey Washington, casou-se com uma escritora da série, Lauren Morelli, que se apaixonou por ela durante as gravações. Por último mas não menos importante, alguns atores da série fizeram voluntariado com a Women’s Prision Association em Nova Iorque, durante o decorrer das filmagens.
Deste modo, esperamos ter dado a conhecer uma série que foi e continua a ser uma das séries mais icónicas e importantes de hoje em dia, tanto pelos temas que retrata como pelo impacto que teve. O bom balanço entre a parte mais leve/cómica e o drama e distribuição da história por entre todas as personagens são alguns dos aspetos que farão com que Orange Is The New Black seja lembrada como umas das melhores séries já feitas.
Ana Tomé, 12°R, e Sofia da Costa, 12°P