Como se fala dos Beatles? Por onde se começa? Habitualmente, começamos pelo início, mas a história dos Beatles fica bastante mais interessante a meio da carreira dos quatro membros.
Após a parte inicial da carreira dos Beatles, com tours constantes e o stress de tocar à frente de milhares de fãs, os quatro membros fartaram-se dos concertos, sentindo-se limitados artisticamente, e decidiram criar música mais experimental, que seria impossível recriar num concerto ao vivo. Foi a partir dessa mentalidade que os Beatles conseguiram criar as músicas mais revolucionárias e inspiradoras de sempre.
Sgt. Peppers’ Lonely Hearts Club Band é exemplo ilustre do quão influente é a música dos Beatles. Mesmo antes de inserirmos o CD ou vinil conseguimos ver o quão especial é este álbum. A capa é tão icónica que mesmo 53 anos depois do seu lançamento ainda influencia artistas atuais, desde o estilo psicodélico, à sua composição esteticamente extraordinária. Este foi o primeiro álbum introduzir as letras de cada música na contracapa, um processo muito recorrente hoje em dia. Adicionalmente, é considerado por muitos o primeiro álbum conceptual, assim como o primeiro a utilizar attacca, uma instrução musical em que não deve haver pausa entre as diferentes secções, transmitindo-nos a sensação de que o álbum se trata de uma única música. Entramos numa jornada psicodélica e mágica.
Este disco contém das músicas mais icónicas dos Beatles, tais como, With a Little Help from My Friends, Lucy in the Sky with Diamonds e A Day in the Life, com a conjunção de todas as outras músicas neste álbum embarcamos numa aventura psicodélica e sonoramente brilhante. O álbum inteiro está cheio de hinos que refletem o movimento contracultural dos anos 60, transmitindo perfeitamente o espírito libertador e a energia positiva que se sentia nessa época.
A música final do disco, A Day in the Life, é um marco histórico no mundo da música, a conjugação dos instrumentos dos Beatles com a orquestra organizada por Paul Mccartney e o lendário produtor George Martin, cria um sentimento grandioso dentro do ouvinte. George Martin é a cola que une os Beatles e transcende a música deles para um outro patamar, com composições simplesmente magníficas e grandes inovações no campo da produção musical.
Foi Paul Mccartney que teve a ideia que originou o álbum. Mccartney estava farto de ser um Beatle e do peso que isso acarretava, logo decidiu criar uma banda fictícia, ou seja, sempre que ouvimos a voz de Paul, John, George e Ringo, estamos a ouvir outros 4 artistas, uma espécie de heteronímia.
Claro que com composições tão complexas e orquestras nem todos os membros tiveram a oportunidade de estarem tão envolvidos como queriam. George Harrison sentiu a gravação do álbum ligeiramente monótona, e Ringo esteve tão aborrecido que decidiu aprender a jogar xadrez durante a altura da gravação do álbum. Apesar disso, ambos trouxeram umas belas peças musicais com o With A Little Help from My Friends, de Ringo, e a Within You Without You, escrita por George Harrison, que trouxe o género musical tradicional da Índia para o Oeste, divulgando assim este estilo diferente.
Este álbum é daqueles álbuns que todas as pessoas devem ouvir, mesmo que não seja o seu estilo musical preferido. Acredito que mesmo 53 anos depois do seu lançamento qualquer pessoa conseguirá apreciar a inovação musical presente, especialmente numa altura da evolução da música onde já existiam milhares de estilos musicais, tornando-se mais fácil esquecer que alguém teve de inventar e experimentar durante dias para finalmente conseguir inovar algo nunca antes ouvido.
-Gonçalo Borlinha
